Tática no Futebol – Princípios de Jogo (2)

“No Futebol, o maior cego é aquele que só vê a bola”

(Autor Desconhecido)

 

 

 

No seguimento do primeiro artigo desta rúbrica, continuo assim a falar de uma maneira mais específica dos Princípios Táticos do Futebol.

Princípios Gerais

São os Princípios que estão presentes tanto defensivamente, como ofensivamente, sendo um princípio que está relacionado com a relação numérico-espacial (número de jogadores num determinado espaço do jogo, principalmente no centro de jogo).

– Não permitir a inferioridade numérica

Em qualquer momento do jogo, ou fase do jogo, a equipa nunca deve permitir que o adversário tenha mais jogadores no centro do jogo (em conformidade onde a bola está localizada) que a própria equipa, mesmo se a equipa está ou não com a posse de bola. Se, dentro do centro de jogo, a equipa tiver um número menor de jogadores, será mais fácil para o adversário ocupar o espaço, e assim recuperar a bola ou progredir em direção á baliza. E porque é que é no centro de jogo que não devemos permitir a inferioridade numérica? Porque o centro de jogo é o pêndulo para qualquer equipa conseguir fazer o seu jogo.

– Evitar igualdade numérica

Quando se organiza taticamente a equipa para o jogo, o treinador deve ter em conta que a equipa não deve desocupar espaço e permitir que o adversário lute de igual para igual durante os momentos da partida. Um único erro no espaço mal fechado pode levar ao insucesso da equipa durante o jogo. Na generalidade deste princípio o fundamental é as coberturas posicionais que os jogadores têm que fazer em conformidade do que acontece no jogo. O Objetivo deste princípio é não diria até que é evitar a igualdade numérica, mas sim precaver para uma possível inferioridade numérica.

– Procurar criar superioridade numérica

Existe uma relação entre a posição da bola e espaço ocupado pelos jogadores. A equipa deve garantir que em zonas próximas a sua baliza, o espaço deve ser ocupado o melhor possível. Aumentar as zonas de pressão e pressionar mais, são chaves de sucesso para qualquer equipa. Este princípio vai de encontro ao princípio transato que todo o jogo é uma questão de nos superiorizar sempre a equipa adversária e nunca permitir a inferioridade numérica. Como é que se cria superioridade numérica, tanto a atacar como a defender? com coberturas quer ofensivas, quer defensivas conforme o momento do jogo.

 

Princípios Operacionais

Os princípios operacionais são, as operações necessárias para tratar uma ou várias categorias de situações”. Portanto, eles se relacionam a conceitos atitudinais para as duas fases do jogo, na defesa e no ataque.

– Fase ofensiva

1.    Conservar a bola;

2.    Construir ações ofensivas;

3.    Progredir pelo campo de jogo adversário;

4.    Criar Situações de Finalização;

5.    Finalizar á baliza adversária;

– Fase Defensiva

1.    Anular as Situações de Finalização;

2.    Recuperar a bola;

3.    Impedir a progressão do adversário

4.    Proteger a baliza;

5.    Reduzir o espaço de jogo adversário;

Princípios Fundamentais

Já os princípios fundamentais representam um conjunto de regras de base que orientam as ações dos jogadores e da equipe nas duas fases do jogo (defesa e ataque), com o objetivo de criar desequilíbrios na organização da equipe adversária, estabilizar a organização da própria equipe e propiciar aos jogadores uma intervenção ajustada no “centro de jogo”.

Fase Ofensiva

Progressão/Penetração

Definição:

– Sempre que se conquista a bola toda a equipa deverá tomar rapidamente uma atitude ofensiva.

– Esta manifesta-se pelas acções de progressão do jogador que possui a bola (1º Atacante) e por deslocamentos na direção da baliza adversária da maioria dos jogadores da equipa.

Objetivos:

– Criação de superioridade, numérica e espacial;

– Ataque ao adversário direto e à baliza.

Comportamentos:

– Após recuperar a bola o jogador deve orientar-se para a baliza adversária.

– Livre de oposição e com espaço à sua frente deve progredir rapidamente para a baliza adversária e tentar o remate.

– No caso de se confrontar com oposição adversária, o jogador com bola deve tentar passá-la ao colega de equipa que se encontre mais perto da baliza adversária (melhor colocado).

Ações Técnico-táticas influentes:

– Condução da bola; Condução p/remate; Finta; Remate;

 

Cobertura Ofensiva

Definição:

– Para além das acções técnico-táticas individuais com bola, existem outras acções individuais e coletivas, realizadas pelos jogadores sem bola, com uma importância paralela às primeiras.

– Assim as acções de apoio ao portador da bola (princípio da penetração), são determinantes para a continuação da manutenção da posse de bola.

– Quanto maior o número de apoios existentes maior será a segurança encontrada nas acções de jogo realizadas.

– Este apoio é também determinante quando o 1º atacante (faz progressão/penetração) perde a bola, sendo então este jogador (2º atacante – cumpria o princípio da cobertura ofensiva) que passa a fazer a contenção.

Objetivos:

– O apoio ao companheiro com bola (2º Atacante).

– A manutenção do equilíbrio defensivo

Comportamentos:

– O jogador em cobertura ofensiva deverá colocar-se atrás e ao lado do portador da bola para que haja sempre uma linha de passe assegurada.

– Em situação de 2×1, o 2º atacante deverá realizar uma desmarcação a fim de ultrapassar o adversário. Caso não consigam ultrapassar o adversário, deverá ser mantida a cobertura ofensiva ao portador da bola.

Ações Técnico-táticas influentes:

– Passe e Receção

 

 

 

 

Mobilidade

Definição:

– De todos os princípios do jogo este é, talvez, o mais rico em proporcionar uma grande variedade de acções de jogo quando executado com alguma imaginação. De facto, a grande versatilidade deste princípio do ataque, pode permitir a criação de situações de ataque inesperadas, dada a capacidade de iniciativa atribuída, não só ao portador da bola, mas também a este outro jogador que executa a mobilidade.

– A execução correta deste princípio do jogo ofensivo por parte de um ou mais jogadores poderá favorecer de forma importante as acções ofensivas da equipa, pois estas constituem-se, assim, como formas verdadeiramente dinâmicas e constantemente inesperadas.

Objetivos:

– Rutura e desequilíbrio da estrutura defensiva adversária

– Oferecer uma linha de passe mais ofensiva

Comportamentos:

A mobilidade expressa-se por uma grande variabilidade de comportamentos. Estes comportamentos destinam-se a apoiar o companheiro com bola (como no caso do jogador em cobertura ofensiva), mas sobretudo a responder aos seguintes aspetos:

        Variabilidade das posições.

        Ocupação dos espaços livres.

        Criação de espaços livres.

        Criação de linhas de passe.

        Manutenção da posse da bola

Ações Técnico-táticas influentes:

– Com o 1º princípio do ataque, surgem as acções técnico-táticas: desmarcação e combinações

 

 

Espaço

Definição:

– A dimensão coletiva característica do jogo é concretizada por todo um conjunto de ações, às vezes pouco evidentes, que poderão ser englobadas sob a designação do princípio do espaço.

– Logo nunca podemos esquecer a importância das funções missões que os jogadores longe da bola deverão efetuar.

Objetivos:

– Estruturação e racionalização das acções coletivas ofensivas no sentido de dar maior amplitude ao ataque, de forma a que haja mais espaço para jogar.

– Estar preparado para intervir no centro do jogo eficazmente.

Comportamentos:

– Todos os Comportamentos individuais e coletivos que pretendam criar durante o ataque:

Largura (ação dos laterais)

Profundidade (ação dos avançados)

Ações Técnico-táticas influentes:

– Sistemas de jogo (4:4:2; 4:3:3; 4:5:1; 5:3:2; 3:4:3; …)

– Método de jogo ofensivo (ataque organizado; contra-  ataque, etc.…)

– Circulações/Esquemas Táticos (transição defesa/ataque, circulação da bola, etc..)

 

Fase Defensiva

Contenção

Definição:

– Os jogadores da equipa que perdeu a posse de bola têm de reagir imediatamente às acções de progressão desenvolvidas pelos adversários.

– A primeira ação a desenvolver no momento da perda da posse de bola é a paragem dos processos ofensivos, o que só se consegue sendo eficaz na aplicação do princípio da contenção.

Objetivos:

– Marcação individual ao portador da bola;

– Recuperação da bola sem incorrer em falta;

– Paragem do ataque ou do contra-ataque;

– Tempo para que haja organização defensiva.

Ações Técnico-táticas a realizar:

– Posição base defensiva (flexão dos membros inferiores, para permitir uma reação apropriada às acções do adversário)

– Colocação dos apoios na diagonal (um apoio à frente do outro e nunca paralelos)

– Deslocamento dos apoios (deverá ser deslizante, em contacto com o solo para poder reagir mais rapidamente)

– Desarme (colocação na posição básica; esperar a iniciativa adversária; tentar o desarme quando o adversário perde o contacto com a bola; ser decidido e incisivo no desarme)

Comportamentos:

As ações desenvolvidas serão realizadas através de marcação HXH considerando-se os seguintes momentos:

1º – O defesa mais perto do adversário com bola (1º Defesa) deverá aproximar-se o mais rápido possível deste último para aumentar o mais que puder a sua distância à baliza.

2º – perto do adversário deverá diminuir a velocidade de aproximação para poder reagir à mudança de velocidade do atacante e/ou para poder fazer a contenção.

3º – seguidamente e depois de ter o adversário controlado deverá orientá-lo para as linhas laterais ou na direção de um colega de equipa.

4º – quando a distância entre os dois for considerada mínima deverá tentar o desarme, não o conseguindo deverá pressioná-lo de forma a que ele seja obrigado a virar as costas ao defensor e assim venha a perder a bola ou a passá-la a um colega.

 

Cobertura Defensiva

Definição:

– É evidente a necessidade do apoio ao jogador que sem bola (1º Defesa – Contenção), tenta em luta direta recuperá-la.

– Esta cobertura defensiva é de extrema importância pois durante o desenrolar das acções defensivas, este jogador (2º Defesa) no caso do seu colega (1º Defesa –  Contenção) ser ultrapassado, terá de passar a realizar a  sua função – contenção.

Objetivos:

– Apoiar o companheiro que marca o adversário com bola.

– Evitar a inferioridade numérica.

Acções Técnico-táticas influentes:

– Interceção (interpor uma parte do corpo na trajetória da bola, tentando adquirir a sua posse ou desviando a sua trajetória

– Dobra (ocupação imediata da posição de contenção)

Comportamentos:

– O jogador em cobertura defensiva deve estar atento às movimentações do 2º atacante (em cobertura ofensiva) e movimenta-se em conformidade com ele.

– Deve aproximar-se tanto mais do jogador que defende quanto mais este jogador se aproximar do portador da bola.

– Deve entrar em ação de contenção sempre que o primeiro defensor (em contenção) for ultrapassado. Este por sua vez passará a realizar a cobertura defensiva – Dobra.

 

Equilíbrio

Definição:

– Este princípio da defesa representa a resposta ao princípio da mobilidade utilizado pelo ataque.

– Tenta-se, assim, contrariar todas as acções do ataque que visam o desequilíbrio da estrutura defensiva.

– Muito embora os desequilíbrios não possam ser evitados é dever da defesa reagir e desencadear os processos defensivos adequados ao restabelecimento do seu equilíbrio

Objetivos:

– Manter a estabilidade e equilíbrio da estrutura defensiva.

– Não permitir que o 3º Atacante fique em posições altamente vantajosas e/ou qualquer outro atacante.

Comportamentos:

– O equilíbrio expressa-se fundamentalmente pelos seguintes comportamentos:

– Coberturas dos espaços e jogadores livres

– Cobertura de eventuais linhas de passe

Acções Técnico-táticas influentes:

Com o 3º princípio da defesa, surgem as acções técnico-táticas:

– Marcação

– Dobra

– Acções técnico-táticas de suporte à ação do GR

 

Concentração

Definição:

– Oposição ao Espaço verificado no Processo Ofensivo.

– Se no ataque pretende-se que todas as ações promovam maior largura e profundidade, na defesa pretende-se que ação realizada tente concentrar os jogadores (aproveitando as leis do jogo), por forma a dificultar e impedir a procura de largura e profundidade dos processos ofensivos.

Objetivos:

– Estruturação e racionalização das acções coletivas defensivas no sentido de retirar amplitude às acções ofensivas, quer em largura, quer em profundidade.

– Os vários sectores concentram-se o mais possível a fim de diminuir ao máximo o espaço que os adversários têm para jogar.

Acções Técnico-táticas influentes:

– Sistemas de jogo (4:4:2; 4:3:3; 4:5:1; 5:3:2; 3:4:3; …)

– Método de jogo defensivo  (defesa zona, defesa HxH, etc.…)

– Esquematizações táticas (Sistemas de dobras e compensações, colocação de várias linhas defensivas, defesa pressionante, etc.)

Comportamentos:

– Concentração de jogadores na zona onde se encontra a bola, através do balanceamento de todos os defensores, tanto no sentido do comprimento como da largura do campo.

– Colocação das várias linhas defensivas perto umas das outras, permitindo assim uma maior concentração de jogadores. Esta concentração dificulta a progressão dos adversários pois cria uma maior pressão defensiva.

– Tentar encontrar um compromisso entre concentração e profundidade e largura defensiva.

– Para aumentar a concentração de jogadores a última linha de defensores deve tirar partido do fora de jogo.  Para isso os seus jogadores terão de se encontrar em linha e perto do meio campo adversário.

– Quanto mais perto da baliza se encontrar a bola, maior deverá ser a concentração de defensores na zona frontal da baliza, diminuindo assim a largura defensiva.

 

Esta é a Ciência do Golo.