O peso na balança não muda. E agora?

Olá a todos, bem dispostos desse lado?
Muitas vezes em consulta e nas redes sociais acabamos por falar de como o peso é importante, como ver o número que aparece na balança a diminuir ou a aumentar (dependendo do objetivo) nos anima ou nos desanima e penso que é importante desmistificar algumas questões aqui associadas.

Quando nos propomos a atingir um dado objetivo (neste caso, de peso), adotamos um conjunto de comportamentos que nos levam a ter a balança como a «entidade» que valida os meus esforços. No sentido em que:

– se quero perder peso e a balança mostra um número menor, estou a «portar-me bem» (mesmo que não me tenha «portado bem»)

– se quero aumentar de peso e a balança mostra um número maior, estou a «portar-me bem» (mesmo que não me tenha «portado bem»)

– se quero aumentar ou diminuir o peso e o número é sempre o mesmo ou não evolui como quero, estou a «portar-me mal» (mesmo que não me tenha «portado mal»)

Independentemente do meu comportamento alimentar e de atividade física (ao qual, aqui entre nós muito humildemente, prestamos muitas vezes pouca atenção), subo à balança e espero que ela me diga «como as coisas estão a correr». A pergunta que eu vos faço é: «Mas EU não sei como as coisas estão a correr?» Não sou EU que como, que corro, que treino, que bebo água, que vou jantar fora com os amigos (…). Eu não sei que comportamentos alimentares e de atividade física é que tenho? Eu não sei como isso interfere com o meu peso?

Eu acho que a questão é exatamente esta – NÃO temos consciência do que comemos, do que nos sacia, de quando temos fome, se nos mexemos ou treinamos muito/pouco/com consistência/de forma adequada, do que é a minha rotina alimentar e do que é a exceção… Não sabemos. Mas a balança é que sabe? Aquele número que ela mostra valida o quê exatamente?

Para mim, NADA. E digo-vos o porquê: há tantos fatores que podem interferir com o número que aparece na balança que, a não ser que eu veja a tendência temporal, valorizar apenas variações semanais ou diárias é valorizar o facto de, num dia, «o céu estar mais azul porque eu comi bife de frago e não bolo de chocolate» (sim, é esta (i)lógica que valorizamos). Alguns fatores que podem influenciar o peso:

  • o peso (número que aparece na balança) é o resultado da minha massa gorda, massa muscular, massa óssea, órgãos, pele, água (…) Não é só «gordura e músculo», como nós muitas vezes achamos – o peso varia 2 a 3kg no mesmo dia – se eu comparar o meu peso de manhã e à noite posso esperar esta variação, como algo  «normal», e não como «Ups! Já engordei»
  • se eu hoje, ao jantar, comer mais comida do que é o meu «normal», porque estou a ter um momento de convívio social, DE CERTEZA que amanhã de manhã, se me pesar, vou ter mais peso. O número na balança vai ser maior. Engordei? NÃO. Significa que não evacuei a comida (e bebida) toda que ingeri, que provavelmente retive mais água (que também pesa!) porque comi comidas mais salgadas… Eu já sei que vou pesar mais porque comi mais, por isso para que é que havia de ir à balança? Passados 2-3 dias, normalmente voltamos ao nosso peso «normal»
  • as mulheres, na semana da menstruação, muitas vezes apresentam aumentos de peso de 2-3kg. Acontece com muitas pessoas que acompanho. Significa que engordaram? Não, é apenas «aquela semana do mês». Na semana seguinte, volta tudo ao normal (até, muitas vezes, têm menos peso)
  • se eu estiver uma semana com hábitos alimentares diferentes e não evacuar, vou ter mais peso, porque «tenho mais comida cá dentro». Não é gordura, logo, não engordei. Mas o número na balança vai ser maior.
  • se eu perder volume, perdendo massa gorda e ganhando massa muscular, o peso na balança pode ser o mesmo ou até maior (o músculo pesa mais do que a gordura), por isso sugiro sempre às pessoas que tirem fotos do seu corpo, que meçam perímetros, e, quando possível e adequado, pregas corporais.

Depois de todas estas razões, continuam a achar que faz sentido valorizar tanto um número como o peso, sem o colocar num contexto? Hoje em dia quase que associamos o nosso valor ao peso e acho que estamos a caminhar para algo muito pouco promotor de saúde. Por isso, mais do que o peso, importam os comportamentos alimentares e de atividade física que temos, e que levarão (ou não) a uma alteração do nosso peso, sem alterar o nosso valor enquanto pessoas.

Nutricionista Andreia Lopes, 3742N